sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Você sabia quanto livros vendeu Jorge Amado até aqui?


Quando se pensa em vendas de livro no Brasil as pessoas pensam em Paulo Coelho, mas isso é muito taxativo. A verdade é que há autores que venderam muitos livros, não tantos quanto Paulo Coelho, mas com uma literatura muito superior.
Desde que lançou há 88 anos seu primeiro livro, o escritor baiano Jorge Amado vendeu mais de 25,7 milhões de livros. O clássico "Capitães da Areia" (1937) lidera a lista dos livros mais vendidos do escritor, com 5,3 milhões de cópias. Em seguida aparece "A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água" (1961), que vendeu 4,2 milhões.
"Gabriela Cravo e Canela" (1958), cuja história serviu de base para uma novela e um filme, aparece em seguida, com 2,5 milhões de livros. Já "Tocaia Grande: A Face Obscura" (1984) é responsável pela venda de 1,9 milhão de cópias, seguida por "Mar Morto" (1936), com 1,6 milhão.

Os segredos do sucesso de Agatha Christie


Quando o acadêmico irlandês John Curran, o fã mais ardente do escritor mais vendido do mundo, encontrou seus cadernos, ele percebeu que as estratégias do processo dessa mega best-seller tinha que ser compartilhados.

Como Agatha Christie, uma mulher normal, sem educação formal e sem antecedentes familiares de escritores, produziu os livros mais vendidos da história? Como essa mulher foi capaz de estabelecer um padrão na ficção policial que nunca foi superado, ou de fato igualado? Sozinha entre seus contemporâneos da criminalidade, como ela conseguiu transformar um entretenimento simples e de fórmula, num passatempo internacional, aparentemente, o tempo todo? Nos seus próprios livros - e através dos Os Diários Secretos de Agatha Christie, com uma seção sobre suas “Ideias Não Utilizadas” - podemos ver como o estoque de ideias dela parece ter sido inesgotável. Era, com toda a probabilidade, a inveja de seus colegas escritores. Ao longo de sua vida, ela foi capaz de recitar ideias e dispositivos da trama com facilidade invejável. E ela poderia adotar e adaptar uma ideia anterior de maneira tão bem disfarçada que a tornasse irreconhecível.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

A Negação da Negação de Hegel e a finalidade do Direito Penal



Por Keren Baesso.
Ensina Bobbio que, somente quando se leva em conta a finalidade de uma ação é que se pode compreender o seu "sentido". Assim, para estudar e compreender o Direito Penal há que se perguntar sobre sua finalidade.
É importante destacar desde logo, que a despeito da (aparente) proximidade conceitual, existem diferenças fundamentais entre a finalidade da pena e o Direito Penal. Para classificar a finalidade da pena criminal, de modo breve, podemos dizer que o nosso Código Penal de 1984,adotou a teoria mista, também denominada eclética ou unificadora, defendida por Adolf Julius Merkl. Esta teoria preconiza que a pena criminal tem duas finalidades: reprovação e prevenção.
É o que nos revela a leitura do artigo 59, caput, do nosso Código Penal:
“Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984”.
No que tange à finalidade do Direito Penal,por sua vez, dentro da doutrina brasileira e estrangeira, temos três posicionamentos de relevância.
Em primeiro lugar, tem-se a posição defendida por Hans Welzel. Para ele, o Direito Penal possui dupla missão: missão ético-social e missão protetiva.
Temos também uma segunda teoria, esta adotada majoritariamente no Brasil e muito bem defendida por Rogério Greco. Trata-se da teoria da Proteção de bens jurídicos. Segundo esta, o Direito Penal tem por função a proteção de bens jurídicos.
E por ultimo, e aqui onde queríamos chegar, tem-se uma terceira corrente, defendida por Gunther Jakobs, na sua Teoria denominada: Teoria da Reafirmação da Vigência da Norma. É na teoria de Jakobs, que encontramos a teoria da “negação da negação” criada por Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Já que Jakobs não esconde ser seguidor desse grande filósofo.
Jakobs entende como sendo o fim do Direito Penal a estabilização do conteúdo da norma. Não se trata, portanto, de proteção dos bens jurídicos, mas sim, da manutenção e confirmação da vigência da norma.
Afirma Guinther Jakobs, que o direito penal não tem por finalidade proteger bens jurídicos, na realidade o direito penal tem por finalidade, reafirmar a vigência da norma, confirmar o seu reconhecimento perante a sociedade.
Segundo ele, nós como sociedade vivemos dentro das “expectativas” cognitivas e normativas. As expectativas normativas, como o próprio nome sugere, seria esperar das pessoas que elas ajam conforme a norma.
Para Jakobs, quando um agente pratica um delito, ele não viola um bem jurídico, mas sim a expectativa normativa, o que significa dizer, que, ele viola a vigência da norma. Quando o agente comete um delito, ele nega o fato da existência da norma que o proibia.
Surge então, o direito penal, para reafirmar perante a coletividade a vigência dessa norma. O direito penal, portanto, estaria reafirmando a vigência da norma.
Logo, a punição como consequência do delito, seria aplicada para “dizer” a sociedade que a norma continua em vigor. O direito penal, portanto seria a negação da negação do agente.
Exemplificando, quando o agente comete um delito, ele esta negando a norma, o Estado com a sua punição surge, para negar a negação do agente.
A estabilidade das normas é o principal objetivo da aplicação do sistema jurídico, pois as normas jurídicas têm a função de orientar, estabilizar e institucionalizar as expectativas sociais, a fim de que sejam evitadas decepções.
Jakobs estabelece que a função da pena é a manutenção da norma como modelo de orientação para a relação social. O conteúdo da pena é uma contradição da negação da autoridade da norma, à custa do infrator da mesma.
Em síntese, Para a Filosofia do Direito de Hegel, a “pena é a negação da negação do direito. É, pois, a alternativa a cumprir um papel restaurador da ordem atingida”35. Em outras palavras, ocorrendo à negação do direito, este deve responder na mesma intensidade.
Ressalte-se que é neste sentido que a concepção de Jakobs também se aproxima do pensamento de Hegel, que afirma ser a pena a negação da negação do Direito, fundamentando-a como necessidade para o restabelecimento da ordem jurídica violada.

Keren Baesso

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

“Euclides era militar. Ele também queria derrubar Canudos”

O arraial de Canudos (acima): contato com a terra e o povo do sertão baiano mudou a visão de mundo do escritor Euclides da Cunha – Foto: Wikimedia Commons-CC.
“Euclides da Cunha era militar. Ele também queria derrubar Canudos. Mas, quando chegou lá, ele se apaixonou pela terra, vendo o outro lado, ouvindo as canções e as orações que os sertanejos emitem e vendo a inteligência daquele povo.” Assim o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa descreve a transformação do escritor após conhecer o homem e o sertão baiano, em entrevista para a série de podcasts Os Sertões – História de Canudos, produzida pelo Instituto Moreira Salles, de São Paulo, e transmitida pelo programa USP Especiais, da Rádio USP (93,7 MHz).
No dia 7 de agosto de 2019, o programa apresentou os últimos dois episódios da série. Num deles, os entrevistados são José Celso Martinez Corrêa e o escritor amazonense Milton Hatoum. José Celso encenou em 2002 uma adaptação de Os Sertões com o Teatro Oficina e Hatoum é autor de ensaios sobre Euclides. No outro episódio apresentado em USP Especiais, no dia 7 de agosto, a história de Canudos é contada por dois personagens oriundos daquela região: o historiador João Batista, guia do Parque Estadual de Canudos, e o músico Fábio Paes, que lançou o CD Canudos e Cantos do Sertão.
A série Os Sertões – História de Canudos tem produção e apresentação de Guilherme Freitas. Os dois primeiros episódios da série foram apresentados pela Rádio USP no dia 31 de julho de 2019 (ouça aqui).
O programa USP Especiais vai ao ar às quartas-feiras, às 21 horas, com reapresentação aos sábados, às 20 horas, pela Rádio USP.

LUTE COMO UMA GAROTA

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É CHOCOLATE

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sexta-feira, 2 de agosto de 2019

O menino que filmou o enterro de Luiz Gonzaga


Portal Vermelho - O que você fazia no dia 2 de agosto de 1989? Paulo Vanderley estava dormindo num quartinho, em João Pessoa, quando seu tio Marcos começou a bater na porta para lhe acordar: “Ó, teu pai ligou dizendo que Luiz Gonzaga faleceu. Prepara a mala que vocês vão voltar agora para Exu. Ele falou que ia passar em meia hora para pegar você!”, avisou.
O cantor e compositor Gonzaguinha, no velório de seu pai, Luiz Gonzaga, em agosto de 1989
Fazia só três dias que o menino de 9 anos estava na capital paraibana, onde ficaria nas férias escolares. Mas a reviravolta na história conduziu-o naquela data por 600 e poucos quilômetros de estrada rumo a uma despedida que ele recorda com detalhes até hoje.
O garoto morava perto da Igreja que receberia o corpo do artista, após o trajeto que faria entre Recife, Juazeiro do Norte e Crato. Filho do banqueiro Paulo Marconi – que havia se mudado com toda a família para a terra natal de Gonzaga no fim de 1987 e naturalmente se aproximado do Rei do Baião –, o menino não conseguia conter a agitação naqueles primeiros e tristes dias de agosto.
“Eu queria estar o tempo todo perto das coisas, ‘curiando’ os artistas que chegavam para o enterro”, lembra o paraibano Paulo. Residente em Fortaleza, hoje com 39 anos, é uma das principais referências como pesquisador da obra gonzagueana, além de funcionário de um banco.
O clima na cidade era de desolação, como descreveu o repórter Antônio Vicelmo em matéria para o Diário do Nordeste no dia seguinte à morte. “O comércio está fechado, e o prefeito declarou luto oficial por três dias. O restaurante no Posto Gonzagão não funcionou no dia de ontem. O Parque Asa Branca está sendo preparado para receber milhares de admiradores de Luiz Gonzaga, que já estão começando a chegar a Exu”.
A Paulo Vanderley também caberia mais do que observar toda esta situação. O pai lhe daria uma grande responsabilidade no dia do enterro, dia 4 de agosto de 1989: a de gravar, com uma filmadora Panasonic, o trajeto que o corpo faria até o cemitério. Caminhando por entre as milhares de pessoas que lotavam as ruas de Exu, o garoto fez imagens tremidas, amadoras, mas carregadas de um profundo sentimento de reverência e respeito ao ídolo.
Sob o sol de quase quatro horas da tarde, o menino registrou mais de uma hora do povo cantando e dançando os clássicos do Rei do Baião, das mãos carregando cartazes e coroas de flores, e das sanfonas chorando uma saudade que estava apenas começando. Da rua, ele também filmou o caminhão do corpo de bombeiros que carregava o caixão.
Em cima, iam o Padre Gothardo Lemos (cearense parceiro na composição de Obrigado, João Paulo, cantada por Luiz na ocasião da visita do Papa a Fortaleza, em 1980); a companheira de Gonzaga, Maria Edelzuíta Rabelo; o filho, Gonzaguinha, abraçado com um gibão; e o próprio pai de Paulo Vanderley, Paulo Marconi, “venerável mestre” da loja maçônica de Exu, que prestava homenagem ao colega em nome da congregação da qual ele fazia parte.
Das gravações do enterro, que mais tarde seriam editadas para compor o acervo do Museu do Gonzagão, Paulo só se ressente de não ter aparecido em nenhuma. Sua missão era ficar mesmo do outro lado. “Foi uma imersão que eu tive de nordestinidade naquele dia. Ali foi um momento que reuniu todas as tribos, de todos os cantos. Era violeiro, cantador, sanfoneiro, compositor, era todo tipo de gente”, recorda-se.
“Era uma devoção aquilo ali, impressionante. Eu sentia, mas não tinha ideia do que era, não tinha dimensão, não sabia que anos depois eu ia ser um cara que iria contar essa história, pesquisar”, ressalta.
No apartamento de Paulo, em Fortaleza, está guardado um acervo sobre Gonzagão. Na entrada, quadros e estandartes na parede, um tapete com os dizeres “Nordeste mulesta de bão” e a porta de madeira, semelhante às de interior, ajudam a criar um clima de casa-museu, que se completa com as prateleiras da sala de estar. Entre livros, LPs autografados, esculturas e réplicas de peças que o Rei do Baião usou, como chapéus e gibão, destaca-se a filmadora antiga, que registrou o enterro e outras cenas da época em Exu, como a ocasião em que Gonzaga de pijama recebeu Nando Cordel.
Quando criança, Paulo viu sua casa virar um abrigo temporário com peças enviadas por Gonzaguinha para compor o Museu do Gonzagão. Anos depois, seu apartamento cumpre papel semelhante, mas agora com itens diferentes, que ele mesmo adquiriu ao longo dos anos. O pesquisador criou um site sobre Gonzaga e a página Isto É Forró no Facebook. Prestou consultorias para o Museu Cais do Sertão, no Recife; o filme Gonzaga: De Pai para Filho, de Breno Silveira; e o enredo O Dia em que Toda a Realeza Desembarcou na Avenida para Coroar o Rei Luiz do Sertão, da escola de Samba Unidos da Tijuca, campeã do Carnaval carioca em 2012.
Frente a toda essa bagagem física e simbólica que guarda, restou-lhe uma conclusão. “Não tem divisão de classe quando se fala dele. Desde o assalariado, o desempregado ao cara mais rico da sociedade, todos se emocionam ao ouvir Luiz Gonzaga. É incrível como ele transita por todos os territórios, segmentos e todos os tipos de coração”.
Na fala emocionada de Paulo, ainda vive um garoto entusiasta do ídolo. E ele também reconhece em outras pessoas a eternidade de Luiz. “No brilho dos olhos daquele menino, o sanfoneiro Kayro, você vê Gonzaga. É impressionante, uma chama que nunca vai se apagar”. Essa história, aliás, já foi cantada há muito tempo. “O candeeiro se apagou, o sanfoneiro cochilou, a sanfona não parou e o forró continuou”. E continuará.
Com informações do Diário do Nordeste