quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

FALSO TARADO OU FALSO POLICIAL

Há uns seis ou sete anos quando eu ainda tirava férias, fui com a família para uma modesta casa de praia no litoral norte de Ilhéus. Contemplamos o mar que ficava se exibindo à nossa frente por algum tempo e deixei todos para ir num supermercado renovar a dispensa.
Naquela tarde fiz as compras num supermercado localizado no final de linha do outro lado da cidade, cerca de 1 hora por conta do trânsito pesado no verão, e pedi para colocarem as compras numa caixa grande de papelão para facilitar o transporte no ônibus.
Uma vez no coletivo a cada ponto de parada subia mais e mais pessoas. Tratei de colocar a caixa nas coxas de modo que fiquei espremido entre o banco, a janela e uma senhora um tanto volumosa. O calor era insuportável e o ônibus parecia que andava com o freio de mão puxado, a lotação era tanta que mal se podia respirar. Quando, de repente, a mulher ao meu lado deu um grito estridente: -está relando! esse vagabundo está me relando!!! E tentava socar um jovem baixinho, muito magro e olhos arregalados que posicionara ao lado do corredor.
Começou então uma gritaria generalizada, principalmente de mulheres e crianças: -Tarado!!! -Descarado!!! (dentre os palavrões impublicáveis). Um pescador (cheirava a peixe, logo a suposição) com dedo em riste ameaçou bater no acusado, mas foi surpreendido e levou um violento soco no nariz, sangrando na hora! A gritaria se multiplicou.
O jovem então levantou a mão com um crachá verde e gritou: -Pare o carro!!! Eu sou da polícia!
O motorista obedeceu à autoridade e parou imediatamente, já perto do meu destino, cerca de 10 minutos.
O jovem então ordenou aos gritos que todos evacuassem o ônibus coletivo, e imediatamente desceram crianças, senhoras, jovens, papagaio...
Ficaram no ônibus apenas eu, com minha caixa encolhido e o tal jovem.
Ele então me perguntou? -Você não vai descer?
Respondi num tom sarcástico: -Porque?  Essa sua carteira é de uma escola de futebol, não de polícia. Mas até que foi uma boa saída, pois no pânico ninguém observou.
Ele ficou sem graça e me perguntou desesperado. -E agora?
-Desça mantendo o disfarce e corra na primeira oportunidade. Aconselhei para me livrar logo dele.
Ele desceu e a multidão já desconfiava solicitando que mostrasse novamente a carteira. Ele deu alguns passos para trás e correu como uma gazela sobe os olhares atônitos dos logrados!
Achei muito engraçado a cara das pessoas feitas de trouxas subindo no ônibus resmungando para seguirmos viagem.
A senhora que iniciou toda a gritaria e vítima da tal "reladura" desapareceu, todos notaram e seguiram viagem xingando e acusando ela de mentirosa.
P.S. Esse foi o meu primeiro desenho no programa GIMP, usando uma caneta mouse (que é difícil de manusear, mas vou treinar um pouco mais). A história é verídica.
Marcos Mauricio

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