A historiadora da arte e professora do Curso de Artes Visuais da Faculdade Santa Marcelina, Cristina Susigan, aponta três artistas visuais que merecem atenção especial do público: Arissana Pataxó, Katia Fiera e Elidayana Alexandrino. Com trajetórias distintas e linguagens potentes, essas três mulheres representam uma produção artística que confronta o apagamento histórico, propõe novos olhares e tensiona o espaço da arte contemporânea no Brasil. “Essas artistas dialogam diretamente com a minha pesquisa em arte feita por mulheres e, especialmente, com questões urgentes do nosso tempo”, afirma Cristina, que além de docente se dedica ao estudo da produção artística de mulheres.
Arissana Pataxó: ancestralidade e resistência em imagens
Nascida em Porto Seguro (BA), Arissana Pataxó faz da pintura e da fotografia um espaço de afirmação cultural e resistência indígena. Sua obra revisita tradições de seu povo e lança luz sobre a memória e a luta dos povos originários no Brasil contemporâneo. “Ela reformula mídias consagradas como a fotografia e a pintura para criar uma poética única e visceral. Arissana carrega um grito ancestral, que nos obriga a repensar o massacre histórico e ainda vigente contra os povos indígenas”, observa Susigan.
Elidayana Alexandrino: a imagem sob suspeita
Nascida em Coremas (PB), Elidayana Alexandrino trabalha com fotografia e propõe uma revisão crítica das imagens que consumimos. Sua produção questiona a ausência de referências negras nos registros visuais hegemônicos e propõe um debate sobre o lugar do corpo negro na história da arte. “Ela usa o conceito de diálogo entre imagens inspirado em Aby Warburg para estabelecer conexões que provocam o observador. É um trabalho de denúncia e de reconstrução de uma memória visual negra e periférica, feito de forma autônoma, especialmente nas redes sociais”, explica Cristina.
Katia Fiera: poéticas urbanas em papel
A paulistana Katia Fiera transforma materiais considerados banais, como papel e desenho, em suportes de intensa carga poética e política. Com foco na cidade, seus “diários imagéticos” exploram a relação entre corpo, espaço urbano e cotidiano. “Ela se destaca por um olhar flâneur — ou flâunesse, como propõe Lauren Elkin —, um caminhar atento e crítico pelas cidades. Seus livros de artista são ferramentas de pesquisa e expressão que têm ganhado reconhecimento nos últimos anos”, diz a pesquisadora.
Arte como política e lugar de fala
Para Cristina, o que diferencia essas artistas no cenário contemporâneo é justamente o entrelaçamento entre técnica e discurso. “Elas trazem temáticas potentes sobre pertencimento, exclusão e história. Arissana e Elidayana nos forçam a repensar uma história da arte que ainda é, em grande parte, eurocêntrica. Já Katia nos faz refletir sobre o espaço urbano, o medo, o pertencimento.”
Ela destaca ainda como a produção dessas artistas está profundamente conectada a questões sociais e políticas. “São corpos que criam a partir de experiências de exclusão e resistência. A arte de Arissana é um ato político de sobrevivência indígena. Elidayana nos coloca diante do desafio de ver imagens que não foram feitas para nós. Katia, por sua vez, reconfigura o espaço público a partir de uma perspectiva crítica e poética.”
Reconhecimento internacional e visibilidade
Segundo Susigan, tanto Arissana quanto Katia têm potencial para alcançar reconhecimento internacional, com obras que já dialogam com circuitos de maior visibilidade. Já Elidayana, embora com trajetória menos institucionalizada, vem construindo uma presença sólida nas redes sociais. “Ela precisa de apoio financeiro e institucional para ampliar seu alcance. O talento está lá. Falta a estrutura que historicamente foi negada a artistas negras, periféricas e mulheres”, analisa.

0 Comentários