A DAN Galeria Contemporânea abre as portas para a exposição Sobre aquilo que permanece invisível, do premiado artista espanhol José Manuel Ballester, com curadoria de Luiz Armando Bagolin. A mostra propõe uma reflexão profunda e poética sobre o apagamento das figuras humanas em obras-primas da arte ocidental, e como esse gesto altera nossa percepção das imagens e da memória coletiva.
Reconhecido internacionalmente, Ballester foi laureado com o Prêmio Nacional de Gravura (1999), o Goya de Pintura da cidade de Madri (2006) e o Prêmio Nacional de Fotografia da Espanha (2010). Sua pesquisa o levou a apropriar-se de obras icônicas — como A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, O Nascimento de Vênus, de Botticelli, e os afrescos de Giotto —, eliminando digitalmente os personagens centrais. O que resta são cenários vazios, prontos a serem preenchidos pela memória, pela imaginação e pela subjetividade do espectador.
Ballester nos convida a contemplar não apenas o que está presente, mas sobretudo o que foi retirado. Os fundos — antes coadjuvantes — tornam-se protagonistas, revelando-se como espaços de silêncio e suspensão. Sobre aquilo que permanece invisível transita entre a filosofia e a arte, evocando o intervalo entre percepção e linguagem descrito por pensadores como Aristóteles e Borges.
A exposição divide-se em núcleos temáticos: em obras como Lugar para un Nacimiento e Primavera, as figuras mitológicas de Botticelli desaparecem, deixando apenas paisagens etéreas. Já em La Ciudad, Navidad e El fuego, os cenários religiosos de Giotto se transformam em cidades vazias, quase maquetes despovoadas de milagres. Em Jardín del Arte, Ballester cria um jogo de sobreposições ao reintroduzir personagens de diferentes obras numa cena de Bosch.
Outro destaque é a série Variaciones a partir de Malevich, onde o artista revisita o suprematismo, desconstruindo o rigor geométrico modernista e transformando-o em dança ótica, aproximando-se mais da crítica contemporânea do que do idealismo de vanguarda.
Segundo o curador Luiz Armando Bagolin, a mostra convida o visitante a experimentar a tensão entre presença e ausência, questionando o próprio estatuto da imagem e o que vemos quando o essencial nos é aparentemente retirado.
Ballester já expôs em instituições como o Museu Reina Sofía (2005), Real Academia de Espanha em Roma (2012) e o Frost Art Museum, em Miami. Sua obra integra acervos de museus e coleções ao redor do mundo. Representado no Brasil pela DAN Galeria, o artista chega a São Paulo com uma mostra que, como afirma o galerista Flavio Cohn, “oferece uma oportunidade rara de pensar o invisível — aquilo que se esconde à vista de todos”. Mais informações: www.dangaleria.com.br

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