"A Morte de Ivan Ilitch" é uma novela escrita por Liev Tolstói em 1886. Trata-se de um livro muito pequeno, mas, ainda assim, uma das maiores obras da literatura universal.
É verdadeiramente uma novela no sentido correto da expressão, ou seja, uma história breve contada em cima de um só fato, que é, evidentemente, a morte de Ivan Ilitch.
A história de inicia em seu funeral e retorna ao passado, narrando, na verdade, a vida de Ivan Ilitch, um bem sucedido juiz, casado com uma bela e afortunada mulher e pai de dois filhos. Uma vida de sonho, aparentemente.
Após Ivan Ilitch alcançar uma promoção que muito desejava, a família é obrigada a se mudar de cidade. Ele parte antes dos seus para adquirir e decorar o novo apartamento.
Porém, um acidente doméstico aparentemente sem importância faz com que acabe acamado e agonizante até que, enfim, a morte lhe alcançou.
Nesse ínterim ele passa a refletir sobre sua vida e suas escolhas. Percebe que a carreira vitoriosa e próspera como juiz, pela qual tinha em enorme estima, não tinha mais nenhuma importância diante da morte iminente. E que a família que formou, apesar de bela, abastada, até mesmo invejável, não parecia possuir vínculos maiores do que se teria em um negócio.
A esposa parece não se importar tanto com a morte do marido e se ocupa em pensar na própria vida após a viuvez. No final das contas, para Ivan Ilitch, apenas a companhia do filho de 14 anos e a de um criado pareciam verdadeiras e com real significado e importância diante da morte.
A novela não apenas nos faz refletir sobre a importância das coisas, mas, muito além, nos mostra que somente diante da perspectiva da morte é que conseguimos compreender e discriminar o que é realmente importante.
Como a vida imita a arte, nesta semana soube da morte de um senhor que conhecia do interior de São Paulo. Era um homem extremamente rico, cheio de propriedades e que nunca desejou nem mesmo se casar, não por se julgar um "solteirão", mas, primordialmente, porque não queria ter que dividir dinheiro ou aumentar suas despesas.
Quando ele estava no hospital, já com situação de saúde muito precária, irreversível, mas ainda profundamente (profundamente mesmo?) lúcido, recebia visitas de funcionários seus, que estavam acompanhando obras e reformas de alguns de seus imóveis.
Questionando o funcionário sobre o quanto pagou para pintura, para assentar o piso etc., ele retrucou: "Está caro demais! Pare a obra enquanto eu estiver no hospital que quando eu sair daqui eu mesmo vou lidar com isso!".
Só que ele saiu de lá para uma nova morada, dessa vez eterna. E mesmo diante da iminência disso, ao contrário de Ivan Ilitch, esse senhor não foi capaz de percebê-la, nem de refletir sobre o que estaria por vir ou sobre o que ele havia vivido ao longo de seus mais de oitenta anos. Em sua cabeça, era como se fosse viver para sempre. Tenho dificuldade de imaginar uma morte mais triste do que essa.
Enfim, estamos prestes a celebrar mais um Natal, a lembrança da vinda de Deus na condição humana, para, como Ele próprio disse, dar a todos vida em abundância (João 10:10).
E essa vida farta que Ele quer dar contempla não só a presente, mas, também, a vida que há de vir. Ironicamente, porém, só poderemos ter vida em abundância, tanto agora quanto depois, se tivermos diante de nossas vistas a morte, sem a qual nada fará verdadeiro sentido.
Com isso, estimo que, em diante, nossos clientes, amigos, leitores e colegas busquem viver como Ivan Ilitch morreu, forma de se buscar sempre a vida em abundância.
Feliz Natal e Próspero 2020!
Por Bruno Barchi Muniz -
Sócio advogado no escritório Losinskas, Barchi Muniz Advogados Associados
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