Tetradracma de Aetna (moedas em destaque): moeda de prata cunhada na pólis de Aetna na Sicília, século V a.C., anverso, cabeça de Sileno; reverso, Zeus sentado no trono – Arte sobre foto de Foto: The Coin Collection of the Royal Library of Belgium, L. de Hirsch Collection, nº 269..
Os gregos antigos foram um povo politeísta, que habitou o sul da Península balcânica e várias áreas do Mediterrâneo e mar Negro. Para eles, como outros povos antigos, as esferas religiosa, política e econômica se misturavam. A divindade mais importante era Zeus. Seu culto estava ligado, inicialmente, ao agrário e ao pastoril, e era realizado em picos de montanhas ou em cavernas. Posteriormente, foi associado às leis, à justiça e ao poder, e passou a ser cultuado, entre outros lugares da cidade grega, na ágora, espaço onde ficavam os prédios públicos e era o centro da vida social nas pólis (as cidades-Estado gregas).
Estudo da arqueóloga Lilian de Angelo Laky no Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP mostra que a época clássica (séculos 5⁰ a 4⁰ a.C.) foi o grande período de vinculação do culto de Zeus à pólis grega. A pesquisa, pioneira ao unir a análise de santuários dedicados a Zeus e de moedas gregas antigas com imagens dessa divindade, recebeu o Prêmio Tese Destaque 2018 na categoria Ciências Humanas.
Estater de Olímpia: moeda de prata cunhada em Olímpia, século V a. C. anverso, águia voando e carregando lebre; reverso, raio alado – Foto: Heritage World Coin Auctions
Segundo a pesquisadora, esses dois materiais históricos, santuários e moedas, trazem um contexto único. Ambos eram produzidos por uma mesma entidade política: as pólis. E revelam muito sobre o mundo grego, ajudando a entender as mudanças do culto a Zeus na Grécia Antiga, além da apropriação e a consolidação da função dessa divindade nas cidades-Estado.
O foco principal do estudo foram as épocas arcaica (séculos 7⁰ a 6⁰ a.C.), quando as pólis começaram a ser formadas; e clássica (séculos 5⁰ a 4⁰ a.C.), quando houve a consolidação dessas cidades-Estado. Foram estudados 60 santuários dedicados a Zeus localizados, entre outras regiões do mundo grego, no Peloponeso, na Ilha de Creta, na Sicília e no sul da Itália, além de 375 moedas do mundo grego com imagens de Zeus, águias e raios.
“Os gregos antigos eram muito ligados aos fenômenos da natureza e associavam algumas dessas manifestações com as divindades. Se um raio caía num lugar, poderia ser entendido como uma manifestação de Zeus. Já a águia era considerada a ave mais forte, dominadora, e acabou por ser associada a essa divindade”, explica Lilian. Ela lembra que o culto a Zeus, assim como a algumas outras divindades veneradas na Grécia Antiga, é anterior ao mundo grego e existem indícios de que esse deus já era cultuado muito antes, na Idade do Ferro (entre os séculos 12⁰ a 9⁰ a.C.), quando as cidades gregas ainda não existiam..
Segundo a pesquisadora, esses dois materiais históricos, santuários e moedas, trazem um contexto único. Ambos eram produzidos por uma mesma entidade política: as pólis. E revelam muito sobre o mundo grego, ajudando a entender as mudanças do culto a Zeus na Grécia Antiga, além da apropriação e a consolidação da função dessa divindade nas cidades-Estado.
O foco principal do estudo foram as épocas arcaica (séculos 7⁰ a 6⁰ a.C.), quando as pólis começaram a ser formadas; e clássica (séculos 5⁰ a 4⁰ a.C.), quando houve a consolidação dessas cidades-Estado. Foram estudados 60 santuários dedicados a Zeus localizados, entre outras regiões do mundo grego, no Peloponeso, na Ilha de Creta, na Sicília e no sul da Itália, além de 375 moedas do mundo grego com imagens de Zeus, águias e raios.
“Os gregos antigos eram muito ligados aos fenômenos da natureza e associavam algumas dessas manifestações com as divindades. Se um raio caía num lugar, poderia ser entendido como uma manifestação de Zeus. Já a águia era considerada a ave mais forte, dominadora, e acabou por ser associada a essa divindade”, explica Lilian. Ela lembra que o culto a Zeus, assim como a algumas outras divindades veneradas na Grécia Antiga, é anterior ao mundo grego e existem indícios de que esse deus já era cultuado muito antes, na Idade do Ferro (entre os séculos 12⁰ a 9⁰ a.C.), quando as cidades gregas ainda não existiam..
Participação na escavação no santuário de Zeus, em Olímpia, Grécia, 2013 – Foto: Lilian de Angelo Laky/MAE-USP
.
Do alto das montanhas e dentro de cavernas para as pólis
A pesquisa revelou ainda que, na Idade do Ferro, apesar dos poucos santuários, o culto a Zeus influenciou as comunidades, principalmente na esfera militar, traço que se conservou nas épocas arcaica (séculos 7⁰ a 6⁰ a.C.) e clássica (séculos 5⁰ a 4⁰ a.C.). A partir da época arcaica, Zeus passou a desempenhar papéis reguladores no funcionamento das cidades gregas, principalmente nas funções políticas e jurídicas.
A época clássica foi o grande período de vinculação do culto de Zeus à pólis grega, como mostram as evidências referentes à monumentalização (a edificação de templos, por exemplo, já que nem todos tinham esse tipo de construção) de santuários dessa divindade e o aumento significativo de áreas sagradas urbanas. Outra evidência são os diversos epítetos (palavra ou expressão que se associa a um nome para qualificá-lo), relacionados à esfera política da cidade grega no período, como Zeus Agoraios (da ágora) entre outros.
“A apropriação do culto dessa divindade pelas comunidades políticas (as cidades-Estado gregas) iniciada no século 6⁰ a.C., se intensificou no século 5⁰ a.C., atingindo o ápice no século 4⁰ a.C. Uma prova da ocorrência desse fenômeno é o início do uso e a proliferação das imagens de Zeus e de raios em moedas das cidades gregas nos séculos 5⁰ e 4⁰ a.C.”, revela a arqueóloga.
.
.
Do alto das montanhas e dentro de cavernas para as pólis
A pesquisa revelou ainda que, na Idade do Ferro, apesar dos poucos santuários, o culto a Zeus influenciou as comunidades, principalmente na esfera militar, traço que se conservou nas épocas arcaica (séculos 7⁰ a 6⁰ a.C.) e clássica (séculos 5⁰ a 4⁰ a.C.). A partir da época arcaica, Zeus passou a desempenhar papéis reguladores no funcionamento das cidades gregas, principalmente nas funções políticas e jurídicas.
A época clássica foi o grande período de vinculação do culto de Zeus à pólis grega, como mostram as evidências referentes à monumentalização (a edificação de templos, por exemplo, já que nem todos tinham esse tipo de construção) de santuários dessa divindade e o aumento significativo de áreas sagradas urbanas. Outra evidência são os diversos epítetos (palavra ou expressão que se associa a um nome para qualificá-lo), relacionados à esfera política da cidade grega no período, como Zeus Agoraios (da ágora) entre outros.
“A apropriação do culto dessa divindade pelas comunidades políticas (as cidades-Estado gregas) iniciada no século 6⁰ a.C., se intensificou no século 5⁰ a.C., atingindo o ápice no século 4⁰ a.C. Uma prova da ocorrência desse fenômeno é o início do uso e a proliferação das imagens de Zeus e de raios em moedas das cidades gregas nos séculos 5⁰ e 4⁰ a.C.”, revela a arqueóloga.
.
Ovelhas sobre os restos do santuário de Zeus, em Megalópolis, Arcádia – Foto: Lilian de Angelo Laky/MAE-USP
.
Como uma peregrina
A pesquisadora viajou, entre 2011 e 2014, até essas regiões para estudar os santuários de Zeus identificados por relatórios de escavação de sítios arqueológicos catalogados por diversos institutos de pesquisa internacionais. Somente em 2014, ela percorreu, de ônibus, e apenas na Grécia, cerca de 3 mil quilômetros atrás de santuários dedicados ao culto de Zeus..
.
Como uma peregrina
A pesquisadora viajou, entre 2011 e 2014, até essas regiões para estudar os santuários de Zeus identificados por relatórios de escavação de sítios arqueológicos catalogados por diversos institutos de pesquisa internacionais. Somente em 2014, ela percorreu, de ônibus, e apenas na Grécia, cerca de 3 mil quilômetros atrás de santuários dedicados ao culto de Zeus..
Trabalho no Museu de Olímpia com as moedas das escavações em Olímpia, Grécia, 2013 – Foto: Lilian de Angelo Laky/MAE-USP
.
Os restos materiais desses santuários, relata Lilian, variavam muito. Alguns estavam em ruínas, outros nem tanto, estivessem eles próximo a cidades, “no meio do mato”, em cavernas ou nas montanhas mais altas. Ela conta que há publicações que mostram as plantas baixas desses sítios históricos. De posse dessas plantas, e de material bibliográfico, Lilian ia até os santuários e observava vários aspectos, entre eles, os restos materiais de onde ficava o altar e outras características do templo, além da paisagem ao redor: alto de uma montanha, em uma caverna, qual a dificuldade para chegar lá, etc.Santuário de Zeus na caverna do Monte Ida, Creta – Foto: Lilian de Angelo Laky/MAE-USP
Já as moedas da Grécia Antiga foram obtidas em catálogos de museus ou associações de numismáticas que publicam coleções. “Há também muito material na internet. Em Olímpia, estudei uma coleção numismática e pude manusear muita coisa”, conta. Durante o período em que passou na Grécia, Lilian também fez um curso de numismática grega e pôde conhecer pessoalmente algumas coleções de moedas.
A pesquisa A apropriação e consolidação do culto de Zeus pela cidade grega: moedas e santuários, política e identidade em época arcaica e clássica teve orientação da professora Maria Beatriz Borba Florenzano, do MAE, e coorientação da professora Aliki Moustaka, do Departamento de Arqueologia da Universidade de Thessaloniki, na Grécia.
A pesquisa fez parte do Projeto Temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) – A organização da khóra: a cidade grega diante da sua hinterlândia – sediado no Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga (Labeca/MAE).
A tese contou com uma etapa de pesquisa no exterior, com bolsa da Fapesp, na Universidade de Thessaloniki e na Escola Britânica de Atenas.
A tese será publicada ainda neste ano pela Editora Odysseus com o título Zeus e a Cidade na Grécia Antiga.
Mais informações: e-mail lililaky@gmail.com, com Lilian de Angelo Laky
.
Os restos materiais desses santuários, relata Lilian, variavam muito. Alguns estavam em ruínas, outros nem tanto, estivessem eles próximo a cidades, “no meio do mato”, em cavernas ou nas montanhas mais altas. Ela conta que há publicações que mostram as plantas baixas desses sítios históricos. De posse dessas plantas, e de material bibliográfico, Lilian ia até os santuários e observava vários aspectos, entre eles, os restos materiais de onde ficava o altar e outras características do templo, além da paisagem ao redor: alto de uma montanha, em uma caverna, qual a dificuldade para chegar lá, etc.Santuário de Zeus na caverna do Monte Ida, Creta – Foto: Lilian de Angelo Laky/MAE-USP
Já as moedas da Grécia Antiga foram obtidas em catálogos de museus ou associações de numismáticas que publicam coleções. “Há também muito material na internet. Em Olímpia, estudei uma coleção numismática e pude manusear muita coisa”, conta. Durante o período em que passou na Grécia, Lilian também fez um curso de numismática grega e pôde conhecer pessoalmente algumas coleções de moedas.
A pesquisa A apropriação e consolidação do culto de Zeus pela cidade grega: moedas e santuários, política e identidade em época arcaica e clássica teve orientação da professora Maria Beatriz Borba Florenzano, do MAE, e coorientação da professora Aliki Moustaka, do Departamento de Arqueologia da Universidade de Thessaloniki, na Grécia.
A pesquisa fez parte do Projeto Temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) – A organização da khóra: a cidade grega diante da sua hinterlândia – sediado no Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga (Labeca/MAE).
A tese contou com uma etapa de pesquisa no exterior, com bolsa da Fapesp, na Universidade de Thessaloniki e na Escola Britânica de Atenas.
A tese será publicada ainda neste ano pela Editora Odysseus com o título Zeus e a Cidade na Grécia Antiga.
Mais informações: e-mail lililaky@gmail.com, com Lilian de Angelo Laky
Por Valéria Dias - Editorias: Ciências Humanas
Nenhum comentário:
Postar um comentário