Dossiê discute obra do historiador francês Georges Canguilhem – Imagem: CC0 Creative Commons |
O dossiê sobre Georges Canguilhem é uma homenagem da revista Intelligere – Revista de História Intelectual ao filósofo, médico e historiador francês, cuja obra vem provocando, há mais de duas décadas, grande interesse – motivado pela atualidade e pertinência de seu pensamento original a respeito não só da teoria, mas também da prática da história das ciências da vida e da medicina. As diferentes concepções de ciência e de como esta se relaciona com outras áreas do conhecimento, as relações entre as várias ciências e o que se considera como não ciência é justamente o que Francisco de Assis Queiroz discute em seu artigo recém-publicado na revista.Canguilhem é referência hoje ao se refletir sobre conhecimento, ciência e razão, quando se pretende “escapar às opções de realismo ou relativismo, racionalismo ou irracionalismo e similares”. Queiroz cita a historiadora e psicanalista Elisabeth Roudinesco, a qual põe Canguilhem ao lado de grandes filósofos como Sartre e Foucault, como exemplo do pensamento atual e moderno sobre o assunto. “Todos eles recusaram, à custa do que eu chamaria de uma travessia da tormenta, transformar-se em servidores de uma normalização do homem, a qual, em sua versão mais experimental, não passa de uma ideologia da submissão a serviço da barbárie.”
Partindo do pressuposto de considerar tudo o que é criado pelo ser humano como história e como arte, e sendo a ciência um fator definido da cultura, o autor propõe: “Pode-se pensar então, a ciência como cultura e a ciência como história? Ou como arte, como Canguilhem se refere à medicina?”.
Partindo do pressuposto de considerar tudo o que é criado pelo ser humano como história e como arte, e sendo a ciência um fator definido da cultura, o autor propõe: “Pode-se pensar então, a ciência como cultura e a ciência como história? Ou como arte, como Canguilhem se refere à medicina?”.
Para Queiroz, arte e ciência não são esferas opostas e incompatíveis, já que arte e ciência floresceram juntas: da Grécia antiga ao começo do século 20. O autor observa que o conhecimento que está ao nosso alcance, transmissível, não abrange apenas as ciências, ou o que consideramos como tal. “A ciência e a arte já estiveram unidas por uma linguagem comum. Não são formas opostas ou excludentes de ver e compreender o mundo”, afirma.
Atualmente existem concepções cada vez mais numerosas “(…) que ligam as ciências às letras, derrubando suas fronteiras” e, nas palavras do filósofo francês Roland Barthes, “é possível que essa oposição apareça um dia como um mito histórico”. Hoje, fatores que antes definiam o que é ciência, como as oposições: quantitativo-qualitativo, objetivo-subjetivo, determinístico-indeterminístico, “deixam de ser critérios absolutos para se definir o que é ciência ou não ciência”, esclarece o autor. Ele concorda também com o fato de a experimentação, característica tradicional das ciências, encontrar-se muito mais nas ciências sociais, por exemplo, do que geralmente acreditamos.
Novos caminhos estão sendo trilhados e novas discussões surgem a respeito da ciência, da cultura e do conhecimento. A tentativa de aproximá-los pode gerar tensão e desconforto, mas também “chegou o tempo de novas alianças, desde sempre firmadas, durante muito tempo ignoradas, entre a história dos homens, de suas sociedades, de seus saberes e a aventura exploradora da natureza”, exemplifica o autor, citando as palavras de Ilya Prigogine e Isabelle Stengers. Ao concluir, Queiroz salienta que Georges Canguillem soube lidar de forma única com realidades opostas, com o normal e o anormal, com a ciência e a não ciência, pelo mesmo ângulo original de observação.
Francisco Assis de Queiroz é professor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
QUEIROZ, Francisco Assis de. Ciência e não-ciência ou as “Duas Culturas”: dominação, quase hostilidade e quase diálogo. Dossiê Georges Canguilhem, a história e os historiadores. Intelligere – Revista de História Intelectual, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 129-138, 2016. (Grupo de Pesquisa em História Intelectual. LabTeo – Laboratório de Teoria da História e História da Historiografia – DH/USP). ISSN: 2447-9020. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revistaintelligere/article/view/114511. Acesso em: 19 jun. 2016.
Margareth Artur / Portal de Revistas da USP
Novos caminhos estão sendo trilhados e novas discussões surgem a respeito da ciência, da cultura e do conhecimento. A tentativa de aproximá-los pode gerar tensão e desconforto, mas também “chegou o tempo de novas alianças, desde sempre firmadas, durante muito tempo ignoradas, entre a história dos homens, de suas sociedades, de seus saberes e a aventura exploradora da natureza”, exemplifica o autor, citando as palavras de Ilya Prigogine e Isabelle Stengers. Ao concluir, Queiroz salienta que Georges Canguillem soube lidar de forma única com realidades opostas, com o normal e o anormal, com a ciência e a não ciência, pelo mesmo ângulo original de observação.
Francisco Assis de Queiroz é professor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
QUEIROZ, Francisco Assis de. Ciência e não-ciência ou as “Duas Culturas”: dominação, quase hostilidade e quase diálogo. Dossiê Georges Canguilhem, a história e os historiadores. Intelligere – Revista de História Intelectual, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 129-138, 2016. (Grupo de Pesquisa em História Intelectual. LabTeo – Laboratório de Teoria da História e História da Historiografia – DH/USP). ISSN: 2447-9020. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revistaintelligere/article/view/114511. Acesso em: 19 jun. 2016.
Margareth Artur / Portal de Revistas da USP
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