Das pinturas que retratam a realidade do campo e as devoções religiosas que permeiam significativamente a vida dos trabalhadores rurais aos devaneios da arte de tendência popular, “Ozias” ocupa a Danielian Galeria-SP a partir de outubro com obras que reafirmam as origens biográficas de Odoteres Ricardo de Ozias. O artista autodidata debutou no mundo da pintura sob o olhar do cotidiano na área rural do pequeno município da Zona da Mata de Minas. Ganhou visibilidade com seu viés de ‘artista do povo’ e se consagrou no cenário cultural internacional com uma mostra individual no templo da arte contemporânea, a David Zwirner, em Londres, em setembro de 2023. Fez da pintura seu principal motivo para retratar o ser humano em seu espaço, suas escolhas e crenças, e sua forma de entender o mundo ao seu redor. Como bem define o curador Jacopo Crivelli Visconti “a maneira como Ozias representa as grandes massas (em cerimônias religiosas ou festividades populares) confirma, de certa forma, essa interpretação: cada corpo parece fundir-se aos que estão aos seus lados e dar, num primeiro momento, a impressão de uma massa homogênea e imóvel. Mas todas as pessoas que compõem essa massa, sem exceção, estão de olhos bem abertos. É um olhar a que nada escapa, um olhar coletivo e atento, capaz de entender, com acuidade e precisão, os jogos e as disputas de poder que se desenrolam à sua frente”.
Ao mesmo tempo visto como artista que executa seu trabalho de forma singela, por meio de representações instintivas da natureza e elementos simples, sem conhecimento de técnicas usuais e, em paralelo, profundamente crítico, Ozias pode ser considerado um artista que representa um conjunto de tendências e estilos. Está entre os legítimos difusores da democratização da produção, difusão e reflexão sobre a ressignificação do simbólico como arte valorada, e que sugere um novo conceito ideológico das concepções de cultura. Na mostra, estarão obras executadas desde 1962, passando pela produção dos anos 1990, com destaque para “Fogo Nisto!” e “Cortando a Mata”, representações do ambiente rural; e dos anos 2000, destacando-se “Anjos no Céu” e “Rostos”, que denotam as relações do homem e a religiosidade. O evento antecede o lançamento da publicação sobre as obras do artista, previsto para 9 de novembro de 2024. A organização do livro é de Jacopo Crivelli Visconti, que também assina a autoria, juntamente com Moacir dos Anjos, Claudinei Roberto, Simon Grant e Gabriela Gotoda, com design de Raul Loureiro.
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