quarta-feira, 28 de agosto de 2024

O impacto do tabagismo na saúde bucal

A crença de que os danos causados pelo tabagismo demoram anos para se manifestar é um mito. Os efeitos nocivos do uso de produtos à base de tabaco podem ser observados logo no início do hábito. Com isso em mente, o Dia da Luta contra o Fumo, celebrado em 29 de agosto, destaca a importância de conscientizar a população sobre os riscos associados ao tabagismo, incluindo os danos à saúde bucal. Uma das primeiras consequências do tabagismo é a halitose, ou mau hálito. Segundo Cláudia Gobor, especialista no tratamento de halitose, tanto o cigarro eletrônico quanto o cigarro tradicional prejudicam a saúde bucal. "Ambos causam um aquecimento na cavidade oral, levando à descamação da mucosa e gengivas, resultando em alteração de hálito", explica.
Além do mau hálito, o tabagismo também contribui para a aparência desagradável dos dentes, causando manchas e amarelamento. A redução da quantidade de saliva, um efeito indireto do fumo, dificulta a autolimpeza da boca e favorece o acúmulo de bactérias.
Mesmo para os fumantes, manter uma rotina rigorosa de higiene bucal é essencial. Gobor destaca a importância de escovar os dentes, usar fio dental e higienizar a língua. "O fumo reduz a produção de saliva e a torna mais viscosa, o que, além de desconfortável, diminui a autolimpeza da boca e facilita a proliferação de bactérias", afirma a especialista.
O tabagismo está intimamente ligado ao desenvolvimento de doenças periodontais, como gengivite e periodontite. A gengivite é a inflamação das gengivas, frequentemente agravada pelo tabaco, que compromete a saúde das gengivas e contribui para o mau hálito. A periodontite é uma condição mais grave, caracterizada pela inflamação dos tecidos ao redor dos dentes, incluindo ossos e ligamentos.
"Fumantes têm uma resposta imunológica comprometida, o que dificulta o combate às bactérias causadoras da periodontite. O tabagismo também diminui o fluxo sanguíneo para as gengivas, prejudicando a regeneração dos tecidos e agravando a inflamação. À medida que a periodontite progride, formam-se bolsas profundas entre os dentes e as gengivas, criando um ambiente propício para a proliferação de bactérias anaeróbias que liberam compostos responsáveis pelo mau hálito", diz Cláudia Gobor. Outro efeito do tabagismo é a redução do fluxo sanguíneo para as gengivas, facilitando o acúmulo de placa bacteriana, uma mistura de bactérias, restos de alimentos e saliva. Em fumantes, essa placa é mais difícil de ser removida apenas com escovação e uso de fio dental. As bactérias na placa liberam compostos sulfurados voláteis, conhecidos por seu odor desagradável, contribuindo significativamente para o mau hálito.
O hábito de fumar também afeta negativamente as capacidades sensoriais. As substâncias químicas presentes no cigarro danificam as células responsáveis pelo olfato e paladar, resultando na diminuição da sensibilidade a aromas e sabores. Fumantes frequentes relatam uma redução na capacidade de identificar sabores, o que compromete a experiência alimentar.
A má circulação sanguínea causada pelo cigarro intensifica esses problemas, prejudicando a entrega de nutrientes e oxigênio às células sensoriais, exacerbando a perda de olfato e paladar ao longo do tempo.
Os danos causados pelo tabagismo à saúde bucal são amplos e imediatos, variando desde o desenvolvimento de halitose até doenças periodontais graves. A conscientização sobre esses efeitos e a adoção de práticas para reduzir ou cessar o tabagismo são essenciais para promover uma saúde bucal melhor e uma vida mais saudável.
Dra. Cláudia C. Gobor
Cirurgiã Dentista especialista pelo MEC no tratamento da Halitose
Ex-Presidente e atual Diretora Executiva da Associação Brasileira de Halitose
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