quarta-feira, 12 de junho de 2024

Análise | ‘Se o Google acabar com a mídia de notícias, quem alimentará a fera da Inteligência Artificial?’

Foto: Andrea de Santis / Unsplash
A frase do título não é nossa. É a manchete de um artigo na Vanity Fair sobre as mudanças no Google baseadas em recursos de IA que podem fazer o jornalismo sumir das buscas. O leitor apressado receberá sumários feitos com base no que gente de carne e osso pautou, mandou cobrir, apurou, escreveu, fotografou e editou (sem contar a turma da contabilidade, do RH, da TI, do marketing, do comercial, da fotografia, das redes sociais e toda a cadeia produtiva de uma empresa jornalística).
O mecanismo está sendo visto por muitos como a pá de cal em um setor já abalado pela concentração da propaganda nas mãos das plataformas digitais, um fenômeno que transformou a indústria.
Mas enquanto as empresas decidem se brigam na justiça contra o uso de seu conteúdo para treinar as IAs ou se negociam com as dominantes do setor para receber compensação e a nova forma de encontrar notícias parece inexorável, a tecnologia avança nas redações, sem que o leitor esteja necessariamente confiante.Pesquisa mostra o que o leitor acha da IA no jornalismo
O Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo pesquisou as impressões do público a respeito do uso da IA na produção de notícias.
Foram ouvidas mais de 12 mil pessoas nos EUA, Japão, França, Reino Unido, Argentina e Dinamarca. Em sua maioria, elas demonstraram reservas com a IA no jornalismo e esperam que humanos estejam no comando.
Um em cada três entrevistados acreditam que editores de carne e osso confirmam se os resultados gerados pelas IAs estão corretos e obedecem a altos padrões antes da publicação.
Isso nem sempre é verdade. Em dezembro do ano passado, o CEO do grupo dono da Sports Illustrated foi demitido depois da revelação de que matérias geradas por IA − como resultado de acordo comercial com uma empresa de conteúdo patrocinado − tinham sido assinadas por jornalistas reais.
Mas eram todos inventados pela IA, o que faz com que o conteúdo esteja longe do “alto padrão” que se espera de um texto jornalístico assinado.


Luciana Gurgel

Jornalista baseada em Londres, é co-fundadora e Editora-chefe do MediaTalks. É também colunista de mídia e comunicação no J&Cia/Portal dos Jornalistas. Faz parte da FPA London (Foreign Press Association).

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