sexta-feira, 3 de maio de 2024

Primeiro dia da JPR 2024 traz atualização sobre as indicações de terapia ablativa para câncer e outras doenças

Um dos assuntos de destaque na quinta (2) na 6ª Jornada de Radiologia Intervencionista da Jornada Paulista de Radiologia (JPR 2024) foi a evolução das tecnologias de ablação. O evento, que vai até domingo (5), é organizado pela Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR). Em sua aula, a médica radiologista intervencionista Priscila Henriques da Silva, preceptora da Residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE) falou sobre as tecnologias ablativas que temos disponíveis hoje: radiofrequência, microondas, crioablação, eletroporação irreversível e eletroquimioterapia. A radiofrequência, surgida nos anos 1990, é a tecnologia de ablação mais difundida, com adoção crescente no Brasil, em especial nos últimos 15 anos. Ela ocorre por meio de uma ablação térmica, na qual se queima o tumor em temperatura acima de 50 graus, para matar o tumor por necrose coagulativa, mas sem ultrapassar o limite de 100 graus. É indicado, principalmente, para casos selecionados de pacientes com hepatocarcinoma (câncer de fígado), nódulos pulmonares, renais e de tireoide, tumores malignos de tireoide e miomas uterinos. “Quando os pacientes são bem selecionados, com doença localizada, a radiofrequência é adotada com intenção curativa, não paliativa”, ressalta Priscila. Na ablação por micro-ondas, assim como a radiofrequência, também se induz uma lesão térmica no tumor. Isso é feito por meio de um gerador, que produz um campo magnético. E esse aumento da temperatura no tecido também causa necrose coagulativa. Comparativamente, na radiofrequência há o aquecimento de tecidos em contato ou muito próximos da ponta ativa, enquanto na ablação por micro-ondas, o tecido circunjacente é aquecido ativamente e simultaneamente, com distribuição homogênea. “Nela, a ablação é possível mesmo perto de vasos. E ocorre necrose coagulativa homogênea mesmo em tecidos heterogêneos”, explica Priscila.Entre as vantagens, menor tempo de procedimento, menor uso de sedativos, maior área ablada, uso de soro fisiológico para hidrodissecção e maior previsibilidade da área de ablação. As principais indicações são para casos selecionados de tumores malignos de fígado, câncer de rim e pulmão; osteoma osteoide, tumores suprarrenais, linfonodos, tumores ósseos e mamários, mioma, tireoide e paratireoide.
Na crioblação, o calor é substituído pelo esfriamento. É adotado por meio de baixas temperaturas, em ciclo de congelamento e descongelamento, utilizando-se argônio. Nesta tecnologia, o gás é comprimido (com ponto de ebulição de -186ºC), com a ponta da agulha sendo resfriada e gerando uma bola de gelo. Ela causa a morte celular por meio da ruptura da membrana celular, dano microvascular, ativação de apoptose por processos imunobiológicos (fagocitose) e descongelamento.
Entre as vantagens, melhor controle e planejamento da área ablada e das margens de segurança; menor lesão de tecidos adjacentes, menos dor e possibilidade de repetir. Entre as indicações, casos selecionados de metástases ósseas, tumor desmoide, câncer de pulmão e endometriose. Também estão em andamento estudos clínicos, com uso da tecnologia, para câncer de fígado, próstata, rim, pele e mama.
Outra tecnologia é a eletroporação irreversível, pela qual se mata todas as células contempladas na região ablada, preservando as estruturas da matriz extracelular, preserva vasos, vias biliares, intestino e sistema coletor. É indicado para casos selecionados de lesões hepáticas primárias e secundárias de localização central, carcinoma pancreático localmente avançado, tumores renais de localização central e tumores de próstata.
“A eletroporação irreversível é mais uma opção no arsenal de radiologia intervencionista. Não usa energia térmica e é uma opção para casos não operáveis e não candidatos à terapias ablativas térmicas. Por meio dela, há uma customização da zona ablada, feita com segurança, próxima aos vasos e vias biliares”, explica Priscila.
Por fim, não menos importante, a opção pela eletroporação reversível, que funciona de maneira semelhante à eletroporação, adicionando injeção de substância. É feita e entrega de pulsos elétricos curtos e de alta voltagem. Há maior concentração de substância citotóxicas. Em seus mecanismos de ação, aumenta a contração intracelular, causa vasoconstrição e induz resposta imune. É aplicada para casos selecionados de malignidade da pele e subcutâneo, incluindo melanoma, metástase e lesões sangrantes. Há estudos que investigam o seu papel em tumores de cabeça e pescoço, fígado e pâncreas, assim como para metástases ósseas dolorosas.
Em relação a qual método escolher, Priscila Henriques da Silva explica que a ablação ideal é aquela, cuja tecnologia, está disponível, os profissionais médicos e operadores tenham domínio da técnica selecionada, que se leve em conta a biologia da doença e que, junto a todos esses critérios, haja a correta seleção do paciente. A ablação ideal, portanto, é aquela que está disponível, executável com segurança e indicada para o paciente certo.
Jornada Paulista de Radiologia (JPR 2024)
https://spr.org.br/evento/320/jornada-paulista-de-radiologia/sobre-o-evento

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