sexta-feira, 5 de abril de 2024

Amores, crises e descobertas de uma mulher na meia-idade

Cartas, e-mails e mensagens nas redes sociais trocados durante quatro décadas revelam as transformações na vida de Theodora, uma descendente de poloneses que confronta batalhas internas para entender seu lugar no mundo. Em A procura de Theo, romance epistolar escrito por Teresa Guimarães, a protagonista é uma parapsicóloga com déficit de atenção que tenta encontrar a felicidade e reconectar-se com a espiritualidade, mas, para isso, revive as memórias de um passado difícil. A personagem reconhece os privilégios de sua trajetória, porém convive com a sensação de que nunca se encaixou em local nenhum. Na infância, quando saiu da capital de São Paulo para o interior, ela precisou lidar com familiares que não a acolhiam e queria mudar de religião para se adaptar à escola católica. Se este sentimento de desproteção já fazia parte de seu crescimento, uma tragédia a coloca em um estado completo de desamparo: de um dia para o outro, perde os pais e tem que lidar com o luto inesperado. Estas vivências anteriores formam a personalidade de Theo no presente. Na meia-idade, ela enfrenta uma desilusão amorosa depois de passar anos casada com um marido bem-sucedido e quer reencontrar o sentido da vida, à medida que evita o processo terapêutico para não entrar em contato com alguns embates internos. Enquanto tudo isso acontece, cria uma identidade falsa nas redes sociais durante um momento de tédio e se apaixona por Thomás, um homem recém-divorciado.

Ao mesmo tempo em que condeno a falta de ética, penso hoje que eu mesma gostaria de
ter me entregado mais aos meus instintos, ter vivido mais intensamente, ter dado mais
asas ao meu coração. A vida passa tão rápido e no final terminaremos todos iguais,
voltaremos ao pó. Portanto, hoje em dia tento não julgar mais nada (A procura de Theo, pg. 159)
Nesta obra, as correspondências não se restringem aos diálogos da protagonista, porque outras personagens são incorporadas à trama e mostram as diversas experiências que circundam Theodora. Com mensagens datadas desde os anos 1970, o livro apresenta as perspectivas de uma mãe que desiste dos próprios sonhos para cuidar da filha, de uma avó preocupada com o crescimento da neta, de imigrantes em busca de oportunidades de vida no Brasil, de uma prima que conversa com a melhor amiga sobre os problemas no casamento, e outras.
Ao narrar dramas, preconceitos, medos e crises de diferentes pessoas, Teresa Guimarães demonstra a incessante busca humana por se compreender no mundo. Mas, quando cita contextos históricos importantes, como a ditadura militar, as Diretas Já e o início da era digital, a autora explicita que a construção identitária não é apenas uma responsabilidade individual, mas também depende da realidade em que os sujeitos estão inseridos.

Nenhum comentário: