Por Cristiane Imperador, coordenadora pedagógica do ensino médio e professora de Língua Portuguesa e Produção Textual do Colégio Espírito Santo |
Além disso, dispositivos digitais transformaram profundamente o funcionamento intelectual e a relação que os jovens mantêm com o mundo. Paradoxalmente, enquanto dominam as redes sociais, encontram dificuldades para, de modo crítico, avaliar, processar e sintetizar informações. As práticas digitais das novas gerações concentram-se em atividades recreativas, o que limita o desenvolvimento de competências informáticas essenciais e impacta diretamente no desenvolvimento escolar. Nas escolas, o impacto do celular vai além da sala de aula. Ele interfere na socialização e até prejudica o sono dos jovens. A nova geração, fluente em linguagem digital, tornou-se imediatista e impaciente, esperando respostas rápidas e vivendo em uma constante sensação de que “o amanhã não importa”. Como alertou a Unesco, em 2023, embora as tecnologias digitais possam facilitar a aprendizagem em alguns contextos, há poucas evidências de que melhorem o desempenho escolar. Pelo contrário: são frequentemente associadas a quedas no rendimento e aumento das distrações. Por outro lado, é importante reconhecer que os celulares não são intrinsecamente ruins. Quando usados com propósito, podem se tornar aliados na educação. Plataformas de aprendizagem, aplicativos interativos e até ferramentas de organização pessoal são recursos valiosos que podem ser explorados dentro de um plano pedagógico bem estruturado. Contudo, para que isso ocorra, é necessário definir regras claras e proporcionar formação tanto para professores quanto para alunos, a fim de garantir o uso produtivo da tecnologia.
A proibição dos celulares nas escolas, portanto, não deve ser vista como um ataque à tecnologia, mas como uma tentativa de restabelecer prioridades. O ambiente escolar deve ser um espaço de concentração, diálogo e construção de conhecimento. Precisamos da internet, sim, mas de forma intencional. Além disso, é essencial refletir sobre o papel dos pais e educadores nesse cenário. Muitas vezes, os pais cedem às telas como forma de manter os filhos ocupados, enquanto escolas enfrentam o desafio de equilibrar o uso das tecnologias com métodos tradicionais de ensino. No entanto, a questão vai além de simplesmente “permitir ou proibir”. Trata-se de ensinar os jovens a desenvolverem uma relação saudável com o mundo digital, compreendendo tanto seus benefícios quanto seus perigos. A solução não está na proibição completa, mas na moderação e no equilíbrio. Como diz Michel Desmurget, autor de A Fábrica de Cretinos Digitais, é preciso limites claros: nada de telas antes dos 6 anos, períodos controlados de uso e, acima de tudo, mais momentos de vida real. Menos telas, mais interações. Menos distrações, mais foco no que realmente importa. Uma abordagem interessante é inserir no currículo escolar o diálogo sobre o uso consciente da tecnologia. Oficinas, palestras e discussões sobre cidadania digital, ética on-line e o impacto das redes sociais podem preparar os jovens para lidar com as complexidades do mundo conectado. Isso inclui ensiná-los a identificar informações falsas, proteger seus dados pessoais e reconhecer os sinais de dependência digital. A tecnologia não é o vilão. Ela é uma ferramenta e, como toda ferramenta, depende de como a utilizamos. Cabe a nós (pais, professores e sociedade) ensinar as novas gerações a usá-la com sabedoria. Com a colaboração de todos, é possível transformar o celular de um obstáculo em um aliado no aprendizado.
E você, como acredita que podemos encontrar esse equilíbrio?
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